Sempre a humildade
Sem humildade, qualquer vício é invencível; com orgulho, nenhuma virtude é suficiente
A Quaresma é tempo litúrgico especial para se pensar nos Novíssimos. Apesar da tentativa constante de fazer os homens atuais esquecerem da escatologia universal, o encontro individual de cada indivíduo com Deus revive a certeza da morte e a esperança de justiça. E esta oportunidade anual nos faz lembrar a importância da virtude da humildade.
Sem humildade, qualquer vício é invencível; com orgulho, nenhuma virtude é suficiente. A humildade ergue o caído assim como o orgulho derruba o soberbo. De que adiantaria castidade sem a certeza humilde de que não se é casto por força própria? Muito menos que se alcança o Céu por essa razão. Tudo é Graça! Deus é que se apieda dos que imploram com mais frequência a virtude da castidade, concedendo-lhes esse benefício. Ou de que adianta a inteligência, se mesmo esse dom especial é também participado pelos anjos decaídos? Os menores vícios – como uma pequena rachadura em uma construção – podem fazer desabar anos de esforços e suores, doutrinas e pensamentos vãos. De outro modo, fraturas enormes e flagrantes, abismos sem fundo de impiedade e desamor, por virtude evidentemente não natural, são incapazes de derrubar os que confiam realmente no Senhor.
A humildade é a virtude que nasce da observância do primeiro mandamento: é o reconhecimento do Senhorio de Deus sobre toda a criatura a causa do constrangimento, que está no alicerce de todo ato de humildade. E a soberta está justamente na recusa em observar esse mandamento. Mas atenção: não se trata apenas de reconhecer a existência de Deus. Isso fazem também os demônios, que conhecem e tremem diante do Nome sobre todo nome. Trata-se, pelo contrário, de jogar-se de joelhos em ato de adoração, remédio contra toda soberba e auto-idolatria.
Que essa Quaresma prepare o fiel para o feliz encontro com Aquele que é a única Esperança do cristão. Que a humildade seja, nesse período, buscada como a um tesouro de grande valor.