Relacionamentos em Crise
Há muito tempo acompanho relacionamentos que agonizam. E meu interesse nesse caso não é só teórico. Não vejo as dúvidas e dores de casais apenas de longe, como quem analisa a dor alheia de matrimônios que sofrem. O meu próprio matrimônio tem passado por tentações sérias há algum tempo e por isso sei quão difícil é resistir ao caminho mais fácil.
Contudo, entendo que a reflexão antropológica e filosófica podem ajudar nesse caso. É uma regra geral dos relacionamentos – e os matrimônios não estão imunes a essa regra – que a inexperiência, cronológica ou espiritual, produza alguns problemas de relacionamento. Em geral, é muito comum que matrimônios jovens ou não tão jovens, mas inexperientes, sofram por seus participantes não se sentirem realizados em seus relacionamentos. A crise se abate sobre namoros, noivados ou até casamentos nos quais a humanização própria e do outro está longe de acontecer. Mas por quê? Por que nossa época passa por uma crônica crise de generosidade.
O matrimônio ou é doação entre duas pessoas, de tudo o que se é, ou é apenas um comércio entre mercadores, um contrato mercantil, um evento em que se trocam interesses. As pessoas entram e saem de relacionamentos ruins – e podem estar em um agora mesmo – porque não aceitam pagar o preço de um matrimônio saudável: ser generoso não é opcional nos relacionamentos humanos. Digo “relacionamentos humanos” de modo genérico, mas com maior razão a crise se abate sobre os matrimônios cristãos. De fato, é preciso generosidade para aceitar o outro como ele é, com seus defeitos e virtudes; é necessário ser generoso para não se fechar em relacionamentos estéreis por medo de ter filhos; é necessário abrir mão do que você entende como “direito próprio” para fazer o outro feliz ou para estar em comunhão com ele; e principalmente, é necessário ser generoso para reconhecer que há um plano para os matrimônios, um plano que não é nosso e que vai além de nossos interesses mesquinhos e materialistas.
Relacionamentos entram e não conseguem sair das crises porque seus membros não entendem que há um enigma muito bem guardado sobre felicidade: não se é feliz sem amigos. O ser humano não consegue ser feliz sem alguém com quem dividir o coração. Por essa razão profunda, amizade e egoísmo não combinam. Então, se o seu cônjuge não é seu amigo, certamente é porque existe uma grande chance de a generosidade não ser o forte no relacionamento de vocês. Experimente ser mais aberto ao seu cônjuge! Deixe de ser o centro do relacionamento. Experimente ser mais aberto à vida! Você verá que as crises se dissiparão.
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