Que poderei retribuir ao Senhor?
O que pode ser digno de um Deus que não se compraz com a altivez de carvalhos ou a força de cavalos? Que não se satisfaz com o sangue de touros ou com templos de ouro? Toda a criação pertence a Ele e, por essa razão, não tem sentido qualquer ação que pretenda retribuir materialmente a Deus pelos benefícios com que cumulou os homens. Mas há algo que escapa a Seu domínio. Ao criar seres com liberdade, o Senhor dos Exércitos quis se alhear desse aspecto da criação, aceitando deixar nas mãos de anjos e homens a decisão de amá-lO ou não.
Se há, então, algo que podemos dar a Deus é a nossa liberdade. Antes de rebanhos de ovelhas e de búfalos, mais que templos e dons materiais, é nosso coração contrito que se torna oferta agradável. Tudo o mais já pertence a Ele: os dons musicais dos cantores fantásticos que pululam em nossas Igrejas, já são presentes que Ele mesmo deu aos homens; a boa retórica do professor brilhante nada mais é que um dom dEle aos homens; mas com a liberdade ocorre algo distinto: a liberdade humana, que se submete amorosamente a Deus, esse dom é algo que Ele não pode ter, sem a anuência humana.
Ao criar seres com liberdade, Deus “limitou” seu poder. De tanto amar, Ele aceitou deixar ao arbítrio de homens e anjos a decisão sobre a retribuição ao seu amor. De modo inaudito, Aquele que fez os Céus e a Terra mendiga o amor de homens e anjos, criaturas por Ele mesmo criadas por causa do seu amor. Que se pode retribuir ao Senhor pelos benefícios que nos fez, pergunta o salmista (Sl 115, 3)? Demos-lhE o que não pode ter, demos-lhE o que nos pede incessantemente, demos-lhE todo nosso coração.
Que o amor de Deus me constranja para que aceite dar-lhE tudo o que não pode ter: minha liberdade, meu amor, meu coração.