Prepare-se para seu matrimônio
Há um ditado latino muito importante para quem pretende se dar em matrimônio: a graça supõe a natureza. Isto significa que a vida futura, que é a Graça de Deus, não anula as escolhas pregressas de cada indivíduo. O convite à vida da Graça não diminui o impacto que as escolhas realizadas no passado possuem na vida de cada um.
A compreensão dessa máxima teológico-filosófica traz muitas luzes para os casais, que passam por dificuldades consideráveis em seu dia a dia. O que isso significa concretamente? Significa que os membros do matrimônio podem até rezar sinceramente pedindo ajuda a Deus para suas dificuldades, podem até compreender corretamente o caráter transcendente da vida e da própria vocação, podem até tentar fazer da própria vida uma canção de louvor a Deus, mas isso não é suficiente. Se o casal não se preparar humanamente para receber a Graça do matrimônio, nenhum desejo interior e piedoso alcançará resultado. Se os membros do matrimônio não dedicarem tempo para entender quais são as condições do amor humano e como os relacionamentos se constituem, as orações e os bons propósitos espirituais não farão o trabalho por eles: a Graça supõe (se apoia, se utiliza) a natureza. A fé (Graça) precisa da razão (natureza).
Por isso, não basta chorar de joelhos – mesmo sinceramente – pedindo a Deus que os livre do pecado da fornicação, se o casal não põe os meios necessários para evitar tais quedas (as melhores amigas dos casais católicos que querem manter-se puros são as TIA’s, um dia conto a vocês). Não adianta pedir (mesmo que sinceramente) o dom da pureza, mas não cuidar das condições humanas para tal virtude (cuidar do vestuário, do olhar, dos lugares, do tempo…). Não basta pedir com sinceridade a transformação interior do outro, se não se considera com igual sinceridade o modo pagão da vida do casal. Não há mudança interior que deixe incólume os aspectos exteriores do matrimônio. Se se reza para a mudança interior do cônjuge, deve-se saber que os aspectos exteriores não só dele, mas do casal, precisam mudar também.

A vida nova do seu matrimônio (Graça) muito depende do tanto de vida antiga (natureza) que precisa ser transformada. Não se engane, a Graça não força a natureza. Nunca! O Senhor para à porta, não a força. Ele bate à porta, não a arromba. É preciso que você e eu viremos a maçaneta e o deixemos entrar! O convite à vida da Graça necessita da anuência da vontade humana. “Deus, diz Santo Agostinho, que te criou sem ti, não quer te salvar sem ti”. Deus quer contar conosco para sua graça frutificar em nós. Logo, matrimônios que não pretendem abandonar a vida de pecado não terão acesso à vida nova oferecida aos homens. De nada adianta rezar piedosa e vigorosamente em razão de uma causa sobrenatural, se não se agir de modo igualmente vigoroso e tenaz para extirpar toda colaboração humana para manutenção do pecado ou do erro. Por isso é frequente vermos tantos matrimônios entre cristãos se dissolverem, um após o outro, por causa da falta de preparação humana. Às vezes a pessoa muda de denominação cristã com a mesma velocidade que troca de marido ou de esposa. Essa é uma ferida enorme nas denominações cristãs nascidas a partir do protestantismo. A verdadeira Igreja de Cristo precisa guardar a indissolubilidade do matrimônio, como diz o Evangelho: “o que Deus uniu não separe o homem”. Para tal missão, contudo, é fundamental que invistamos em nossa preparação humana.
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