Papa e as interpretações da Bíblia
Um primeiro ponto importante é sobre a preponderância do texto sagrado para a fé cristã. Com efeito, a Bíblia é fonte inequívoca do cristianismo. A Palavra de Deus sempre fecunda e frutifica em quem a escuta com boa disposição. No entanto, não é a única fonte. E mais: nem a primeira. Antes da Palavra Escrita há a Palavra Pregada, fonte de todo texto do Novo Testamento. Toda a Bíblia deve ser interpretada não à luz do texto frio, mas do testemunho daqueles que viveram com o Cristo. A pregação dos apóstolos inspira e dá sentido ao texto sagrado. Por isso, a Bíblia nasce da Igreja e é um absurdo crer na santidade dos textos bíblicos e duvidar da santidade da Igreja Católica. A Palavra Escrita é antecedida pela Palavra Pregada.
Ademais, e aqui o erro do articulista é grande, os católicos jamais defenderam uma leitura unívoca da Sagrada Escritura. Só para ficar no século XIII, é tradicional a divisão dos sentidos da Bíblia de Santo Tomás de Aquino (sentidos histórico, alegórico, moral e anagógico). A questão do Papa não se coloca sobre as disputas de interpretação de textos particulares da Escritura, mas do conjunto da mensagem cristã. Apenas quando uma interpretação em particular coloca em xeque um ponto mais geral da doutrina é que a autoridade Papal surge para dirimir os problemas.

O ponto mais central, porém, é outro. Por causa da centralidade da Igreja no Mistério de Cristo, o tema da reflexão teológica questionar o Papado nem se coloca. As discussões teológicas no catolicismo são distintas da autoridade eclesial, justamente porque é anterior e superior a estas mesmas questões. De outro modo, a Igreja não serve ao teólogo, é o teólogo quem serve à Igreja.
A Tradição (na figura do Papa) não significa univocidade; significa proteção especial do Espírito Santo.