Pandemia – Comunhão Sacrílega e Confissão – Pe. Matheus Pigozzo
Neste tempo difícil de pandemia, são frequentes, nas redes sociais, as manifestações dos fiéis em relação à falta da Comunhão Eucarística. De fato, a realidade das igrejas fechadas traz consequências tristes e a falta da recepção dos sacramentos deixa o povo vulnerável espiritualmente, que Deus tenha misericórdia e faça cessar esse tempo, é o que pedimos. No entanto, é preciso não deixar o tempo passar sem que reflitamos sobre algumas coisas.
No início da pandemia recebi um antigo texto relatando uma conversa de uma mística com Jesus, que, ao passar em seu país por um momento parecido com o nosso, no qual as igrejas foram fechadas por ocasião de uma “peste”, Ele teria dito a essa mulher que quando Ele permite as igrejas fecharem, as missas serem reduzidas etc, é porque encontra nas celebrações ofensas, irreverências, e atitudes sem frutos. Independente se o momento em que vivemos é permitido por Deus pelos mesmo motivos que foi na época desta mística, esse relato me fez pensar na importância de refletirmos como Igreja sobre as disposições interiores que temos ao receber os sacramentos.
Sente-se falta da comunhão. Mas como a recebemos? Parece, em geral, estar instaurado um relaxamento em relação à preparação para comungar. A Eucaristia é o Corpo de Cristo, isso não é brincadeira! Quando comungamos abrimos a porta de nossa alma a Cristo. Como ela está? O pecado mortal se chama assim porque “mata” nossa alma, o pecado venial a suja. Ao abrirmos a porta de uma alma “morta” se lança Cristo na podridão, e de uma alma “suja” o recebemos entre a desordem. Se fossemos pensar no sentido material, se o fossemos receber em nossa casa poderíamos não ter condições de oferecer para Ele o melhor da matéria, não por Ele não merecer, mas por nos faltar proventos econômicos, mas no que se refere à alma, Ele nos pede pureza que não se precisa comprar, Ele mesmo no-la dá quando fazemos a confissão contrita de nossos pecados.
Deve-se vir à Missa para honrar a Deus, mas quando se comunga em pecado, acontece uma ofensa a Ele. Aqui é importante compreender que o estado emocional nem sempre corresponde com o estado da alma. Uma pessoa pode emocionalmente sentir-se bem e sentir certo consolo psicológico ao comungar, porém, se está em pecado mortal, em sua alma acontece algo bem diferente e se profana o sagrado. Membros da comunidade de Corinto estavam tomando parte da Eucaristia por motivos meramente humanos – confraternização e alimentação corporal – e sem preparação espiritual. São Paulo faz uma forte advertência – “aquele que come e bebe sem discernir o Corpo (de Cristo) come e bebe sua condenação” (Cf. I Cor 11,29). Aquele sacramento que foi instituído para dar a salvação, quando é buscado de forma indigna ou com motivações meramente humanas, se torna condenação.
Ao pegar esta passagem bíblica para fazer esse artigo continuei o texto, passando aos versículos seguintes. Pareceu-me bem forte para o momento a frase – “Eis por que há entre vós tantos débeis e enfermos e muitos morreram (…) o Senhor nos corrige, para que não sejamos condenados com o mundo” (Cf. I Cor 11,30-32). A exegese do texto, expressa na nota de rodapé “g”, da bíblia de Jerusalém, em referência ao versículo 30, diz que o apóstolo interpreta uma “epidemia” acontecida na época como uma punição divina.
É um pouco difícil ouvir isso hoje em dia, mas Deus é um Pai que, por amor, por disciplina, pelo bem, pode castigar a humanidade para que ela se emende e se converta. O texto de São Paulo que citamos mostra o autor ensinando à comunidade que a irreverência à Eucaristia e as tensões na unidade entre os irmãos são ofensas graves a Deus e Ele pode punir por essas irreverências e, diríamos hoje, sacrilégios.
As comunhões impróprias muitas vezes se dão pela falta do hábito de confessar os pecados ao sacerdote. Jesus deu poder aos seus apóstolos (os sacerdotes) “a quem vocês perdoarem os pecados eles serão perdoados, a quem vocês retiverem, eles serão retidos” (Cf. Jo 20, 23). A confissão contrita dos pecados é o meio que Deus determinou como revitalização da alma e purificação da mesma. Abrir a boca para comungar é abrir a casa interior, é nossa responsabilidade preparar essa casa. Quando se comunga em pecado trata-se com desprezo a Deus, tratamos sua benevolência em vir a nós com indignidade e profanamos os santos mistérios.
O comungante não é necessariamente santo, mas é aquele que ama a Deus, mesmo reconhecendo suas fraquezas. Por isso, prostra-se reconhecendo sua pequenez – “eu não sou digno de que entreis em minha morada” – confessa seus pecados – e só se aproxima consciente de que é preciso primeiro que Ele “diga uma palavra para ser limpo, salvo”.
– “O que me incomoda”
Muitas pessoas se confessam pelo que as incomoda, e por isso, se cometem algo que não sentiram incômodo, ou não acham que é grave, acabam indo para fila da comunhão de forma indigna. É preciso confessar o que “incomoda” a Deus, não a si mesmo. Em termos gerais podemos dizer que é um pecado grave quando uma pessoa, livremente, escolhe ofender a Deus em matéria grave, diretamente às suas leis, os dez mandamentos. Esse tipo de pecado deixa a alma impossibilitada de receber o sacramento da Eucaristia; se a recebe, a profana.
– “O que vão pensar de mim?”
Algumas pessoas podem sentir a tentação de, mesmo tendo consciência de pecado grave, ir à fila da comunhão por vergonha de parentes, amigos ou conhecidos. É preciso agradar primeiro a Deus que aos homens. Quem se aproxima do Corpo de Cristo indignamente come sua condenação! O que é a imagem de alguém frente aos amigos diante da salvação da alma?
– “Não tenho pecado”
Por falta de formação muitos não conseguem enxergar suas atitudes como erradas. Pensam que pecado é só matar ou adulterar. Um bom formulário de exame de consciência pode auxiliar para identificar os erros leves e graves: a vaidade em falar de si, a mentira, o orgulho em não reconhecer erros e impor sua vontade, a rispidez com os outros, o desprezo e preguiça para rezar, o anticoncepcional, o furto, viver amasiado com alguém, a impureza na internet etc.
– A Confissão
Esse texto não é para afastar você da comunhão, é para aproximá-lo(a) da confissão. Infelizmente é uma realidade que, de forma geral, os horários de confissão em nossas paróquias são muito pouco aproveitados. Às vezes, a intenção das pessoas não é nem se confessar, mas desabafar algo. O foco não está, em muitos casos, no amor de Deus e em estar com um coração habitado por Ele, mas o destaque está em si mesmo. Os confessionários vazios, ou pouco frequentados, e as filas das comunhões cheias denotam a irreverência à Eucaristia. Uma consciência escrupulosa se afasta da comunhão por uma imperfeição leve, o que está errado, mas as consciências relaxadas se aproximam da comunhão com erros graves, sem verem problema nenhum.
A confissão deveria ser um hábito para todo católico, de quinze em quinze dias ao menos fazer uma faxina no templo interior. Confessar pecados veniais (leves) também forma a pessoa e o hábito da confissão a deixa mais apurada nas coisas espirituais. Além disso, a confissão traz graças para que o fiel tenha força na luta contra o pecado.
Comungar em pecado não traz frutos para a alma, é como dar alimento a um cadáver! O abandono do pecado e a confissão do mesmo é o que revive o organismo espiritual recebido no batismo que nos possibilita vida espiritual. Tendo em vista que uma alma morta não chega a Deus, o fiel que não traz uma contrição perfeita (que é a dor por ofender o Amado Jesus) deveria ter ao menos o que se chama de atrição, que é o medo da condenação eterna. Uma alma que ao menos tem atrição não se acomoda no pecado. Morrer em pecado mortal conduz à perdição sem fim, a confissão dos pecados graves a livra disso. Parece que o descaso com a salvação chegou a tão alto nível que mesmo em pecado grave muitos não só comungam indevidamente como não buscam a confissão, não se atentando que podem morrer condenados.
Falar disso saiu de moda, parece radicalismo e temas de teologias passadas. Lembremo-nos, no entanto, que Deus é o mesmo ontem hoje e sempre.
Quando passar essa pandemia, vamos continuar no mesmo ritmo que estamos? Teremos aprendido a valorizar as coisas de Deus? Buscaremos nossa salvação de verdade? Prepararemo-nos melhor para receber a Eucaristia? Os nossos confessionários terão a marca de nossos joelhos? Teremos a consciência de que enquanto não se abandona uma situação de pecado, enquanto não se decide por lutar contra um pecado grave, não se pode receber o Corpo do Senhor?
Tratar o que é santo como algo costumeiro, sem valor, é ofender o Senhor. A Eucaristia é Deus, como a tratamos é como O tratamos. Ele vem a nós, fracos e pecadores, o que Ele nos pede é – “Lavai-vos, purificai-vos! Tirai das minhas vistas as vossas más ações! Cessai de praticar o mal” (Is 1,16).
Tag:Atualidades, Clipping, eucaristia, Sacramentos
2 Comments
Excelente reflexão! Deus o abençoe!
Obrigada🙏
O Pe. Matheus é fera!