O Coração da Vida Interior: a Obediência
Sem oração sincera, a fé será um conjunto de teorias mortas, doutrinas vazias. Na Igreja, em uma comunidade, praticando a religião é que se aprende a rezar, a reconhecer-se pequeno. A religião faz isso pelo homem, pois o simples fato de a religião ser uma retomada, ser um ato de religar exige algo a que se religue. Por isso, tanto mais humana é a oração quanto mais íntima e pessoal, direcionada a um TU, ela configurar-se. Essa é a mensagem do Papa Francisco, durante uma homilia em Santa Marta (21/02/2014):
Alguns são os “cristãos que pensam a fé como um sistema de ideias, ideológico: existiam também no tempo de Jesus. O Apóstolo João os chama de anticristo, os ideólogos da fé, independente de sua proveniência. Naquele tempo havia os gnósticos, mas existirão muitos… E assim, esses que caem na casuística ou na ideologia são cristãos que conhecem a doutrina, mas sem fé, como os demônios. Com a diferença de que estes tremem, aqueles não: vivem tranquilos”
A religião necessita da oração e a oração possui três matizes: relação com Deus, relação consigo e relação com o outro. Fazer da oração – e portanto da religião – um elogio a si mesmo, um exercício intelectual belo mas sem vida, é caminhar alegremente pelo caminho largo das teorias, das ideias, de um cristianismo sem sangue, sem lágrimas, um cristianismo da porta larga. Tal religião não reza pois não reconhece a quem rezar, não suplica pois não vê necessita de súplica, não implora pois não reconhece alguém que possa vir em socorro. Toda oração desse cristão morno, que cita o Papa, é oração autorreferenciada, que agradece seus dons como se não houvesse necessidade de arrependimento, de perdão, de conversão. É um grande desfiar de elogios por seus feitos, por seus sucessos: obrigado pelo carro, pela casa, pelo emprego, por saúde. Nada de: perdão por meus enormes e inúmeros pecados, converta-me nesse ponto da minha vida, socorra-me aqui pois não posso mais.
Ora, a religião bem vivida é sempre ato de humildade e humildade é quase sempre não fazer a própria vontade: “Eis que venho fazer a vossa vontade, Senhor” (Hb 10, 7-9). Um cristão que não vive apenas um cristianismo ideológico tem de praticar a virtude da obediência, ou arriscar a viver uma fé Prêt-à-Porter, como criticou o Papa. E obedecer significa fundamentalmente obedecer ao Magistério Ordinário.