Mudança, sua importância na filosofia
Um dos temas mais importantes da filosofia é a mudança. O que são as mudanças? Como ocorrem as mudanças? Como se classificam as mudanças que nos cercam a todo momento? Então, ao nosso entorno há uma multidão de transformações a todo momento. Transformações periféricas, vamos dizer assim, transformações profundas; transformações na aparência, transformações na essência. Dizendo de forma precisa: mudanças acidentais e mudanças substanciais. Essas mudanças nos cercam o tempo inteiro e elas são importantíssimas pra entender como o mundo funciona e também pra entender elementos, por exemplo, da ética e da religião de qualquer pessoa.
As mudanças acidentais são aquelas que ocorrem sobre o ente existente. São aquelas que transformam exteriormente o ente como, por exemplo, cortar o cabelo. Cortar o cabelo não muda o ente humano. Pintar a unha, engordar são mudanças que acontecem (porque o ente era magro, o indivíduo era magro e agora está gordo – parece que estou falando de mim, né? – o indivíduo era cabeludo e agora é careca, tinha um cabelo amarelo e agora tá com o cabelo vermelho), essas mudanças acontecem, mas ninguém diz: “Opa, não é mais humano porque pintou o cabelo”. “Não é mais humano porque…”. Ainda é mudança acidental, não é substancial. Outra coisa é quando você fere esse mesmo indivíduo com uma adaga sob a sua costela e fere o coração e esse indivíduo morre. Já não é uma mudança acidental. Deixou de ser homem para ser outra coisa, pra ser um cadáver. Aí a mudança, então, é substancial. Há uma mudança na natureza da coisa.
Veja a diferença entre a mudança acidental e a mudança substancial. As mudanças acidentais não mudam, não transformam o que a coisa é. A mudança substancial transforma o que a coisa é. Era carvão mineral, ou grafite, e com pressão e calor específicos, aquilo muda de carvão para de diamante. Era um amontoado do células masculinas mas unindo-se a um outro amontoado de células femininas gera um terceiro ente que não é mais um amontoado de células, é um terceiro elemento, que não é mais nem o pai, nem a mãe. É um bebê. Houve ali uma mudança substancial. Não é mais parte de um homem, é um homem inteiro. Há uma mudança substancial ali. Percebe? E a partir daquela mudança substancial vão começar a acontecer mudanças acidentais. Vai começar a crescer, a engordar, a criar elementos externos e internos.
Veja aqui a seriedade do assunto no caso da ética. Por que é absolutamente imoral o aborto? Por que no momento em que há a união entre o gameta masculino e o gameta feminino, o que acontece não é uma mudança acidental. O bebê não é acidente da mãe. O bebê é uma substância, é um humano que está em um estágio fetal ainda. Em estágio, mas é um bebê. É um estágio da vida que é o estágio fetal. A mudança substancial ela é importante porque ela demonstra para cada um de nós a importância que os entes têm em si. Ninguém confunde gravite ou carvão mineral com diamantes, dizendo: “Não, é a mesma coisa. São só mudanças na aparência”. Não, não é só aparência, não. De fato, não há nada ou há muito pouca coisa de semelhante entre o carbono e o grafite e o diamante. O brilho é diferente, o peso é diferente, o preço é muito diferente. Aqueles que falam assim: “Ah, não, o bebê e a célula, é só mudança de aparência”, deviam receber um anel de carvão e dizer: “Não, não, é a mesma coisa. O carvão e o diamante, é só aparência”. E é claro que não é. Há mudanças significativas entre uma coisa e outra. Houve uma mudança radical na aparência, na dureza, justamente porque houve uma mudança na substância.
E aqui é o ponto principal que eu quero falar pra vocês hoje. As mudanças substanciais acarretam necessariamente mudanças acidentais. O contrário não acontece. Mudanças acidentais não acarretam necessariamente mudanças substanciais. E sobre esse assunto vamos falar mais adiante.