Joseph Ratzinger – Crise de Sentido
Crise de Sentido
Joseph Ratzinger
“Sem a palavra, sem o sentido, sem o amor, ele chega à situação de não poder viver mais, mesmo que ele esteja cercado da abundância de todo conforto da terra. Quem não sabe que essa situação do ‘não posso mais’ pode surgir no meio da abundância externa? Mas o sentido não deriva do saber. Querer produzir o sentido por meio do conhecimento da factibilidade seria uma tentativa tão absurda quanto a do Barão de Münchhausen que pretendia sair do atoleiro puxando ele próprio os seus cabelos. Acho que o absurdo dessa história revela exatamente a situação básica do ser humano. Ninguém consegue tirar-se a si próprio do atoleiro da incerteza e do não poder viver mais, nem mesmo recorrendo ao cogito ergo sum e todo um encadeamento de conclusões racionais, como Descartes ainda podia supor. Um sentido produzido por nós mesmos, em última análise, deixa de ser sentido. O sentido, ou seja, o chão sobre o qual pode firmar-se e viver a nossa existência como um todo, não pode ser produzido, ele só pode ser recebido”