Dogmas Políticos
Os homens têm dogmas muito questionáveis. Sim, eu sou crente! Eu acredito em dogmas, sim. Mas minhas crenças inquestionáveis ficam apenas no campo religioso. Creio firmemente que o homem, nascido em Nazaré, chamado Nazareno, nasceu de uma Virgem, por obra de Deus Espírito Santo. Seu nascimento trouxe júbilo incapaz de ser compreendido racionalmente pela humanidade, pois Nele conviviam, em plena síntese e equilíbrio, a humanidade perfeita e a Perfeitíssima Divindade, a Eternidade do Verbo e temporalidade do Nazareno. Só aos simples é revelada a grandiosa obra que, neste Natal escondido, começa a se realizar. Este homem, chamado Emanuel também, morreu injustamente sob Pôncio Pilatos e sua morte trouxe aos homens maior benefício que jamais poder-se-ia conceber. Para espalhar a Boa Nova da Salvação executada pelo Nazareno, Ele mesmo ordenou a testemunhas que levassem essa notícia a todos os povos: creio firmemente que essas testemunhas são a Igreja de hoje e tem no Papa o sucessor de São Pedro. Portanto, tenho sim muitos dogmas religiosos. No entanto, não possuo nenhum dogma político!
Não existe um tipo específico de forma de governo que seja, naturalmente, melhor que outra. Nada garante que a democracia seja melhor que a monarquia. Antes, de acordo com a reflexão política de Platão, toda forma de governo pode ser contraditada pelos vícios inerentes a cada tipo: a monarquia, se mal gerida, pode tornar-se tirania; a democracia, demagogia. As formas de governo não são boas em si mesmas e podem ser modificadas segundo as intenções de cada civilização. Neste sentido, a leitura que Marx faz da realidade não é incontestável: dividir a sociedade entre donos dos meios de produção e proletariado é, no mínimo, duvidoso. Do mesmo modo, supor que a política seja dicotomicamente dividida entre direita e esquerda, liberais e reacionários, democratas e republicanos, capitalistas e comunistas chega a ser risível. No Brasil em que vivemos, quem seria de direita ou de esquerda? A divisão da política brasileira em direita e esquerda é míope, para dizer o mínimo.
No entanto, as discussões políticas geradas em nossos dias sempre retornam a esse ponto. Não se percebe que, na suposição básica de todas essas intervenções, está a distinção simplista entre patrão e empregado. Algumas acusações deixam o campo dos argumentos e criticam ideologicamente os indivíduos de pertencerem a esta ou aquela orientação. Mas como é possível, se a própria distinção maniqueísta entre direita e esquerda está equivocada? Ora, estas posturas, a meu ver, revelam apenas que alguns possuem convicções muito fortes em política, convicções que eu só reservo para o aspecto religioso. O que suscitou grande reflexão foi a dogmatização de alguns destes elementos políticos e a respectiva relativização de dogmas religiosos. Curiosa mudança que leva alguém a dogmatizar a política e laicizar a religião!
Ora, a liberdade religiosa é um direito natural, que não pode ser aviltado por causa de elementos ideológicos, como desejam algumas propostas políticas dogmáticas; o direito à vida é um bem inalienável de todo humano e nenhuma postura política dogmática pode contestar, não importa de que orientação venha a crítica; a liberdade de opinião igualmente deve ser resguardada e não se pode pôr limites injustos a este direito, mesmo se para isso argumente-se em favor do bem do cidadão. Os dogmas políticos possuem uma interessante característica: de uma só vez rejeitam elementos religiosos sobre assuntos de importância e também a reflexão filosófica mais apurada e segura.
Não troco meus dogmas religiosos por dogmas políticos, pois dos primeiros tenho como testemunha a reflexão filosófica tradicional, além do próprio Senhor Jesus e sua Igreja. De outro lado, quem me garante a veracidade destes dogmas políticos?
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