Deus e seus presentes
Hoje tive uma daquelas experiências marcantes.
Como faço, toda vez que tenho oportunidade, atendi ao pedido de um aluno para refletir sobre educação numa paróquia do Rio de Janeiro. Dedicada a São Benedito, a Paróquia fica em Pilares e tem a honra de ser comandada pelas mãos laboriosas e comprometidas de Monsenhor Mazine. Além disso, é uma das paróquias com mais seminaristas enviados à Arquidiocese o que, por si só, testemunha o trabalho desse sacerdote.
O tema a mim proposto foi “Educação Cristã dos Jovens” e a bibliografia sugerida pela Ir. Aix foi surpreendente. Fui provocado a usar a Divini Illius Magistri (1929), de Pio XI. Preparei algo interessante (aos meus olhos), aproveitando textos de Leão XIII, Bento XV e Paulo VI, para demonstrar a importância da leitura continuada da tradição e da doutrina cristã acerca da educação dos jovens. A palestra seria o coroamento de 1 semana de formação para o Vicariato Suburbano, onde ocorreu o já famoso Curso de Férias – Seminário São José, proporcionado pelos seminaristas da Arquidiocese e alguns leigos. Foi uma experiência excelente pra mim e espero que também tenha sido para os que participaram dessa pequena aula.
Mas o ponto mais importante aconteceu durante a missa, que antecedeu o encontro. Enquanto o Sacrifício da Santa Missa acontecia, celebrada por Mons. Mazine, entrou um senhor no final da Igreja. Ele não se vestia bem, ele não tinha uma aparência agradável, ele tinha os pés e as mãos muito sujos (mais tarde soube que é morador de rua e alcoólatra que frequenta o grupo de oração da paróquia), mas desde que entrou até o fim da missa, ele não parou de chorar. No momento do ósculo da paz, o senhor de camisa branca (na foto) foi até ele e lhe deu um abraço e, naquele momento, ele chorou com ainda mais força. E de braços abertos, louvava em silêncio a Deus, com uma simplicidade impressionante. Pareceu-me que estava suplicando para Deus o libertar de sua história.
Vendo tudo aquilo, eu lembrei do meu tempo de catequista, das minhas turmas de Eucaristia e Crisma. Recordei-me das tardes e noites de discussões sem fim, vendo os olhinhos dos crismandos se iluminarem, enquanto suas dúvidas quanto a fé iam se desfazendo… Lembrei que o cristianismo não se limita a páginas de doutrina, nem a discussões nas redes sociais, mas se ocupa com o homem. Jesus e sua Igreja, com sua doutrina, seus sacramentos, suas obras de caridade, seus templos e instituições. Tudo isso é para o homem. Quando Jesus quer trazer à intimidade algum fiel, solicita que convivam com Ele: “Vinde e vede”.
Tenho certeza que a falta desse contato com pessoas de verdade, com dramas de verdade, com libertações verdadeiras e algumas vezes impossíveis, fazem com que alguns movimentos atuais percam o sentido eclesial mais fundamental: comunidade. Não participar da vida paroquial embrutece, deixa-nos ensimesmados, autorreferenciados. A vida do cristão sem a paróquia vira uma sociedade, uma associação, um clube repleto de disputas, desafios, debates, como aquelas coisas de adolescente que ficam medindo quem tem o braço mais forte, quem tem o QI maior, essas coisas engraçadas. Como seria bom se as paróquias pudessem contar com esses novos grupos de jovens inteligentes, bem preparados, com sede de santidade, mas que tivessem dispostos a dar mais do que uma parcela de sua inteligência, que estivessem dispostos a envolver-se com as pessoas e não só com livros, que estivessem dispostos a partilhar suas vidas com essas diversas biografias que frequentam, cotidiana e silenciosamente, as paróquias do Rio de Janeiro e do Brasil. Afinal, o cristianismo não é a religião do livro.
Mons. Mazine, Sem. Jose Milton Gomes Cardoso, Sem. Renan Persival, Sem. Paulo Diego, Sem. Raphael Talarico, Sem. Gabriel Sousa, Sem. Fernandes Elias Júnior, muito obrigado pela oportunidade de experimentar essas delicadezas de Deus. Continuem, todos vocês, a ser instrumentos de evangelização dos homens, de todos os homens, sem distinção. E que a Paróquia de São Benedito de Pilares continue a contar com homens dedicados ao Evangelho como são os senhores.