Como se tornar um camponês – Parte 1
Olá, fui convidado para escrever num site de filosofia, literatura, política e religião. Hoje fiz minha estreia.
Espero que gostem, comentem e divulguem.
Como se tornar um camponês – Parte 1
A simplicidade e a honra, a austeridade e a humildade, a honestidade, a laboriosidade, a alegria de uma vida comum e sem exageros, essas são características dificilmente rejeitadas pelas pessoas que leem O Camponês. De certo modo, essa vida escondida e singela é o que move muitos de nossos leitores. Contudo, um paradoxo se apresenta: se essas virtudes interessam a tantas pessoas, se o reconhecimento desses valores é quase unânime, por que os camponeses são tão raros nesses tempos? Por que os grandes centros urbanos não estão repletos desses indivíduos encantadores? Por que há tão poucos camponeses entre nós, mesmo no interior e ao redor das grandes cidades? Vou mais longe: por que também homens e mulheres das pequenas cidades brasileiras querem esquecer-se de sua origem e desejam renegar sua natureza, diria, camponesa? Enfim, quais virtudes existiam no camponês de ontem e, hoje, não mais existem? De modo positivo, como se pode resgatar a alma do camponês, a fim de que se povoem as cidades com esse indivíduo necessário e fascinante?
Nessa primeira abordagem, penso que a característica mais evidentemente incomum em nossos bairros e cidades é a gratidão. De modo direto: a virtude que falta em nossos tempos – não a mais importante; antes, a mais rara – é a gratidão. O segredo do camponês é essa pequena virtude, que transforma de modo tão profundo o cotidiano das pessoas. Sem gratidão, não há reconhecimento da pequenez da vida humana nem da própria opinião. Sem gratidão, não há reconhecimento dos inúmeros benefícios que todos os dias os outros nos cumulam. Sem gratidão, o homem tende a ver-se independente de outros e até de Deus. E esse é um dos aspectos que impede a proliferação de camponeses em nossas cidades. O camponês de todas as latitudes é alguém que vive em constante estado de agradecimento: muito agradece o Sol e a chuva, o frio e o calor, o padeiro e a costureira. Não só: é alguém que varre sua calçada e a do vizinho, pega o seu café e o do colega de trabalho, por pura generosidade. É alguém que não vive sob o marco do egoísmo. Nas grandes cidades, contudo, o camponês é tido como tolo.
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