Algodão entre cristais
Nenhum casamento se mantém se não houver doçura entre os cônjuges. E caso não haja doçura, que ao menos encontrem-se sinceros carinho e afeto entre seus membros. E se for impossível haver carinho e afeto, que pelo menos o respeito que se deve a um filho de Deus exista naquele lar. Afinal, Deus morreu até pelos meus inimigos. Que se dirá de alguém com quem escolhi – livre e conscientemente – compartilhar a mesma carne?!
Enfim, o fato é que, entre dois cabeças duras, importa que alguém faça o papel de amortecedor das tensões cotidianas. Se entre dois teimosos não houver a coragem de ceder e perder a discussão – ação proibida numa cultura tão autoritária e soberba como a nossa – todos os relacionamentos vão terminar nos tribunais.
Homens e mulheres são diferentes não só nos seus corpos, mas principalmente em suas almas. Eles têm modos distintos de ver o mundo, às vezes, muito distintos. Por isso, todo matrimônio exige que alguém da relação faça o papel de amortecedor, pois serão raras as ocasiões em que seus membros concordarão em todos os detalhes de uma ação concreta. Com urgência, os casais que passam por crises de relacionamento precisam aceitar que alguém precisa ser o algodão entre os cristais da casa. Alguém precisa ser o bálsamo a aliviar as feridas do dia a dia dos outros membros da família. Os lares de hoje precisam ter mais algodão entre os dedos e menos dinamite entre os dentes.
É muito duro quando só um dos cônjuges faz o papel de algodão. É muito injusto quando só um do casal morre pelo bem da família. O matrimônio perfeito ocorre quando os cônjuges rivalizam em caridade, antecipando-se mutuamente para que a vida do outro seja mais leve. Mas isso é raro. O mais comum é que alguém sempre ceda mais, por temperamento ou por simples desejo de manter no lar alguma harmonia e paz. Eis aqui a perfeita imagem do matrimônio, à luz do cristianismo: é perdendo a vida que se a recebe; é morrendo, que se alcança a vida. É duro, mas é possível viver esse aspecto do matrimônio cristão, é difícil, mas é possível ser algodão entre mãos rudes, mas só se for exclusivamente por amor a Nosso Senhor.
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