Ainda sobre a Família
No último texto sobre a Preparação para o Matrimônio, duas dúvidas surgiram na minha caixa de mensagem. O objetivo é aprofundar alguns pontos importantes:
1) Se um dos cônjuges não desejar ter filhos, o matrimônio é inválido?
O ato sexual é parte necessária para a consumação do sacramento do matrimônio. E, por natureza, ele possui aspectos unitivos e procriativos. Na intimidade proporcionada pelo ato sexual, não é apenas o corpo dos cônjuges que está comprometido, mas toda sua vontade e toda sua inteligência. Dada a constituição metafísica do ente humano, é o indivíduo todo que se dá nesse momento único. Ora, o ato sexual tem uma causa final evidente, além da união do casal: a procriação. Se o amor dos cônjuges procura expandir-se com causas comuns, ideais semelhantes, de modo que eles sejam um só coração, a geração dos filhos é um outro modo – e quem sabe o mais excelso – desta união concretizar-se.
A união sexual que se dá no matrimônio é tão importante que, sem a possibilidade da união de corpos, o sacramento não se confirma. Se o ato unitivo que ocorre no ato conjugal é condição para que o vínculo conjugal se estabeleça, e se a geração é uma causa destes atos, é necessário que as partes estejam abertas à vida, sem impor qualquer limite artificial ao ato, seja antes ou depois de sua realização.
Assim, se ao menos um dos cônjuges determinar (expressa ou intimamente) a rejeição de filhos, o matrimônio conterá um vício de raiz. Se for o caso de um matrimônio pagão, o vínculo do casal é imperfeito, pois impõe limites à união, limites que o tempo se encarregará de derrubar. Se o matrimônio for cristão, o vínculo é nulo, isto é, não houve matrimônio. Lembre-se sempre que o cristão é chamado a doar-se, seja com suas potências intelectivas, seja com seu corpo.
2) É comum sentir-se atraído(a) fisicamente por outra pessoa que não minha esposa ou marido?
Sim, sem que se cause escândalos desnecessários, é importante que se saiba que isso ocorre ordinariamente. Acontece frequentemente que, fisicamente, as pessoas se sintam atraídas por outros homens e mulheres. Mas isso não se chama amor, a isso se chama paixão. O que é mais comum ainda é que as pessoas se sintam atraídas por princípios, por virtudes. Por isso, os sacerdotes atraem tanto as mulheres, mesmo compromissadas. Quem não desejaria ser amada por alguém justo, educado, paciente, generoso, etc., ainda com mais razão se é menosprezada ou relegada a segundo lugar num relacionamento doentio. Por outro lado, até os maridos que têm esposas lindas ficam abalados por mulheres menos bonitas, quando – sem cautela – viram confidentes e veem o sofrimento em uma carona ou algo parecido.
Todavia, deve-se dizer que a paixão não é totalmente involuntária. De algum modo, somos coniventes com suas investidas, facilitando com desordens pessoais, leniência moral e outras fraquezas. E não sejamos feministas: o que ocorre com os homens também pode acontecer com as mulheres. Por isso, sempre sugiro aos namorados, e noivos, e recém-casados que o amor é distinto da paixão e que o matrimônio é mais que os dois. Para que a paixão incomode menos é importante sonhar com seu cônjuge; imaginar seu cônjuge; preencher seus desejos com ele. E se ele for como eu, com poucos atributos físicos, tenha sempre diante dos olhos as virtudes que ele tem ou que se esforça por ter. A admiração é fundamental no relacionamento. Não se enganem: se não for ele (a) o seu objeto de admiração, será outro (a).