A Igreja não é uma Abstração
Aprendamos com Tomé, que a fé em Nosso Senhor precisa ser profunda e encarnada. Lembremo-nos de que um pai não dá pedras ao filho que pede comida. Deus, que não é como os pais humanos que são maus, não deixará sua Igreja sem o auxílio necessário. Se temos desconfiança da Igreja Católica, dos seus membros e de suas doutrinas definitivas, pode ser sinal de que nos falte fé em Cristo e no Evangelho. Afinal, foi Jesus mesmo quem prometeu que as Portas do Inferno não prevalecerão!
No dia de São Tomé, é preciso lembrar que a fé em Jesus Cristo não é uma fé neutra, uma fé abstrata. Ela passa necessariamente pela vida, pela conversão de todos os membros da Igreja, durante todos os dias de vida. E mais: a fé de São Tomé não existe sem a mediação da Igreja, e da Igreja Católica tal qual o Senhor Jesus a fundou. É na comunidade cristã, presidida por Pedro, que Tomé recebe a visita do Senhor. É na comunidade cristã, presidida por Pedro, onde Tomé profere a famosa jaculatória que inspirou séculos e séculos de cristãos pelo mundo todo: “Meu Senhor e meu Deus”.
Uma olhada na história da Igreja, porém, e você verá vozes e mais vozes desdenhando dos ministros dos seus respectivos tempos: encontram-se testemunhos da usura do clero na Idade Média, ou da covardia do clero da Idade Moderna, ou da tibieza do clero do período contemporâneo. E, nesses momentos de críticas, invariavelmente os olhares se voltam para o início do cristianismo, para a Igreja Apostólica e os Padres da Igreja, como que olhando para o período áureo da fé cristã. Mas foi assim que as coisas aconteceram?
A Igreja de Jesus, a Igreja Católica, foi fundada sobre Cefas, sobre Pedro, mas também sobre homens de carne e osso. E a Igreja não tem problemas apenas agora. No dia de São Tomé, algum contemporâneo poderia levantar a crítica absolutamente razoável: mas um Apóstolo de Cristo era homem de fé claudicante? Um Apóstolo do Senhor era alguém dado a dúvidas de fé? Sim, era. E não só ele. São Pedro, o primeiro Papa, negou Cristo publicamente mais de uma vez; os irmãos Boanerges eram carreiristas, pois buscavam ficar a frente dos outros; Natanael era preconceituoso, pois julgava mal os de Nazaré; todos os apóstolos eram medrosos, pois fugiram depois que Jesus foi preso. Sem falar do Iscariotes.
Veja, é sobre esses homens que Cristo quis fundar sua Igreja. Esses homens repletos de defeitos foram escolhidos diretamente pelo Senhor para serem testemunhas dos seus ensinamentos para o mundo. Cristo quis fundar sua Igreja sobre a fragilidade humana, sempre apoiada pelo Espírito Santo, mas nunca destruindo a humanidade. A Graça de Deus supõe a natureza humana, mas nunca a destrói ou ignora (cf. TOMÁS DE AQUINO. Summa Theologiae, I, q. 2, a. 2, ad 1). É certamente um modo de gnosticismo, sim, negar a estrutura e os membros fracos da Igreja em favor da Igreja Celeste, em favor daquela pura e imaculada, que aliás só existiu numa abstração ou numa tematização teórica. É um erro gravíssimo dizer amar a Cabeça da Igreja, mas desdenhar, falsificar, maldizer, ridicularizar o seu Corpo, formada por seus membros.
Aprendamos com Tomé, que a fé em Nosso Senhor precisa ser profunda e encarnada. Lembremo-nos de que um pai não dá pedras ao filho que pede comida. Deus, que não é como os pais humanos que são maus, não deixará sua Igreja sem o auxílio necessário. Se temos desconfiança da Igreja Católica, dos seus membros e de suas doutrinas definitivas, pode ser sinal de que nos falte fé em Cristo e no Evangelho. Afinal, foi Jesus mesmo quem prometeu que as Portas do Inferno não prevalecerão!
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