A Escada que leva a Deus
Os apóstolos Paulo e Barnabé exortavam seus irmãos admoestando-lhes que o caminho do seguimento de Jesus não é tranquilo e sem problemas. Dizem-nos até hoje, os apóstolos:
“É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus” (At 14, 22).
Ora, se a condição para se chegar ao Reino de Deus é passar por muitos sofrimentos, por que até hoje alguns rapazes e moças buscam loucamente um matrimônio sem percalços? Por que se escandalizam quando veem as dificuldades de seus irmãos ou quando percebem, na própria pele, os sofrimentos de seus relacionamentos? Não foi isso já previsto pelos apóstolos? Não é essa a história que nos contam os milhões de mártires da história da humanidade? Não é isso que testemunham nossos olhos, dia após dia, nas paróquias do mundo inteiro?
Acredito que um dos maiores desafios de nosso tempo é apagar do imaginário das crianças e dos jovens a ideia falsa e mentirosa do “felizes para sempre”. Entenda bem: não é que a felicidade matrimonial não seja real. Ela é real e alcançável. Mas a noção de felicidade que as pessoas têm não é a correta. Confunde-se felicidade com alegria e – muitas vezes – com euforia. Alegria e euforia são respostas orgânicas, temporárias. Essas paixões (esse é o termo técnico para alegria) são variáveis e costumam ser intensas e motivadas pela sensibilidade. Felicidade, não. É possível ser pobre e feliz. Doente e feliz. Injustiçado e feliz. Tecnicamente (falo aqui de filosofia), felicidade é a situação de autorrealização da humanidade, isto é, é a certeza do cumprimento do dever-ser humano, de tal modo que nada nem ninguém poderá dissuadir aquele indivíduo de que esteja errado. Por isso, nas perseguições romanas aos cristãos, os perseguidos iam em direção às presas das feras sem titubear – alguns, inclusive alegres! Tinham certeza do que estavam fazendo, estavam felizes.
Pois é preciso dizer aos jovens e crianças que não há outra escada para se chegar ao Reino de Deus. Como diz os Atos dos Apóstolos, esse é o caminho necessário para ultrapassar os empecilhos aos Céus. O matrimônio possui muitas, muitas, muitas dificuldades e fingir que elas não existem ou minimizar sua importância é trabalhar contra o matrimônio e a favor daquele que quer ver o matrimônio destruído.
Já disse um milhão de vezes, o matrimônio é sacramento de serviço, assim como o sacerdócio. Por isso, compartilha com o sacerdócio todas as dificuldades e desafios do serviço cristão ao próximo: incompreensões, desentendimentos, instrumentalização, dureza dos corações. É preciso gritar aos jovens: não temam o matrimônio! Mas é preciso gritar com ainda mais força: matrimônio é porta estreita! Se pretende um matrimônio que seja uma escada para Deus, saiba que haverá inúmeras dificuldades, as quais você precisará ultrapassar. Se desejar um matrimônio que seja caminho para os Céus, acredite-me, esqueça essas histórias melosas que se contam em filmes e em palestras nas paróquias. Matrimônio não é azul bebê nem rosa chupetinha. Matrimônio se parece mais com vermelho sangue.
Os apóstolos já nos disseram que não há caminho tranquilo para os Céus. Ouça a voz de nossos mestres e faça do seu matrimônio um lugar de santificação e felicidade. Em alguns casos, Deus mesmo concede a esses matrimônios uma alegria ou outra, aqui e ali.
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